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A Arte e a Abordagem da Escravatura

Mário Cruz – reportagem “Talibés - Escravos dos tempos modernos”

Mais de 50 mil meninos e adolescentes vivem aprisionados nas malhas das supostas escolas corânicas do Senegal. Têm entre os 5 e os 15 anos de idade, são forçados a mendigar oito horas por dia e são punidos severamente sempre que não conseguem atingir os valores desejados. Chicoteados e acorrentados, são vítimas de um sistema de tortura e escravatura dentro das próprias paredes das escolas que os deveriam acolher, educar e dar-lhes melhores perspetivas de vida, para além da pobreza que tinham nos sítios onde nasceram. As autoridades conhecem esta realidade dantesca, mas fecham os olhos. Boa parte da sociedade senegalesa diz não acreditar. Para que não sobrem dúvidas sobre o martírio que diariamente esta crianças enfrentam, Mário Cruz entrou no mundo proibido dos talibés e o registo que trouxe com ele em fotografias é a maior prova que o mundo poderia ter.

Hope For a New Life (Esperança Para Uma Nova Vida)

Fotógrafo: Warren Richardson

O fotógrafo acompanhou um grupo de 200 refugiados que tentava atravessar a fronteira entre a Sérvia e a Hungria.

Lisa Kristine – Gana (África do sul)

Fishing Boats (Barcos de Pesca)

O Lago Volta é o maior lago feito pelo homem do mundo. A costa é pontilhada com aldeias remotas de pescadores que só podem ser alcançadas pela água. A criança mais nova neste barco tem 7 anos; a mais velha tem 15. É o fim do dia. Eles têm trabalhado desde 4 da manhã. Eles são escravos. Estima-se que há pelo menos 4.000 crianças escravizadas no Lago Volta. As redes podem pesar até 400 kilos quando estão cheias. Todas as crianças no lago sabem de outra criança que morreu nas redes.

Mounts of Gold (Montes de Ouro)

 No subsolo há sempre o risco de uma derrocada. Acima do solo, a terra solta cede sob seus pés.

Sebastião Salgado – Gold (Ouro)

Durante uma década, a Serra Pelada, a maior mina de ouro a céu aberto do mundo, evocou o mito do El Dorado. Nela trabalharam cerca de 50.000 pessoas em condições desumanas. Hoje, aquela febre de ouro selvagem é apenas uma lenda que se mantém viva graças a algumas recordações felizes e muitos lamentos dolorosos.

Esta coleção é um documento excecional da história moderna e um portefólio fotográfico extraordinário.

“A Escrava”, Sir William Blake Richmond (1886)

Esta pintura mostra-nos uma mulher negra com dois filhos pequenos, o que representa a impiedade da escravatura perante mulheres e crianças. O ambiente da ação pintada é escuro e aparenta ser um estábulo (pela palha que cobre o chão), despertando sugestivamente a melancolia e a introspeção.

“A Troca de Escravos”, François- Auguste Biard (1833)

A obra de Biard esboça uma cena agitada onde se espelham as condições desumanas atribuídas aos escravos. Trata-se de uma troca feita num porto após o desembarque dos homens negros. Novamente, as cores escuras identificam o estado de sobriedade e a disciplina imposta aos homens dominados, sem deixar o desconforto causado pela tristeza de parte.

“Escravos a Cortar Cana de Açúcar”, William Clark (1823)

Representando vários escravos de todas as idades e géneros a trabalhar num campo de cana de açúcar, esta obra espelha a quantidade de tempo e de investimento dedicada às plantações. As cores suscitam uma estranha sensação de serenidade, apesar da ação esboçada ser forte e agitada em termos desumanos.

“A Troca de Escravos” – George Morland (1791)

Esta pintura é trabalhada em tons sombrios, o que passa ao espectador o sentimento melancólico e perturbador da ação que decorre. São visíveis crianças, mulheres e homens negros a serem escoltados por um grupo de indivíduos de pele branca. É possível ver também um menino a os ajudar ao puxar um barco para terra, deixando evidente o tipo de mentalidade da época.

“Luxos Virginianos” – autor desconhecido (1825)

A pintura representa uma mulher escrava a ser beijada pelo seu proprietário, ao mesmo tempo que mostra um homem escravo a ser agredido com uma cana. O lado crítico da obra mostra a sexualização da figura feminina e a associação rápida do homem apenas aos trabalhos pesados, algo que fica bem caracterizado pela paleta de cores escuras utilizada.

Estátua da Abolição ou Bussa, Barbados (1985)

A pequena ilha de Barbados, na América Central, era originalmente habitada por indígenas Arawak. Porém, quando chegaram os espanhóis, em 1492, estava desabitada. Foi uma colónia inglesa entre 1627 e 1966, ano da sua independência política. O tabaco e o algodão foram as primeiras culturas exploradas na colónia, substituídas, a partir de 1640, pela cana de açúcar com mão de obra africana escravizada.

Em 1816, ocorreu uma violenta revolta escrava liderada pelo escravo de nome Bussa. Cerca de 400 escravos incendiaram fazendas e tomaram conta das propriedades. Depois de três dias, os ingleses conseguiram sufocar a revolta. Cerca de 115 escravos foram executados e dezenas foram levados para outras ilhas. Em 1834, a escravidão foi abolida no Império Britânico. Os ex-escravos, contudo, tiveram que indemnizar os seus antigos proprietários continuando a trabalhar por mais 4 anos, sem remuneração, durante 45 horas semanais. Em 1838, finalmente, cerca de 70 mil barbadianos de ascendência africana comemoraram a liberdade. A Estátua da Abolição celebra esta libertação, mas o povo barbadiano deu outro significado ao monumento: refere-se a ele como Bussa, nome do herói nacional.

Negro Marrom, Haiti (1969)

O Haiti foi palco da maior revolta escrava da América. Sob controlo da França desde 1697, com o nome de São Domingos, era uma rica colónia produtora de cana de açúcar com mão de obra escrava. A partir de 1791, ocorreram uma série de revoltas inspiradas pela Revolução Francesa e que culminaram com a tomada do poder pelos ex-escravos num episódio que chocou a Europa e os senhores brancos da América. Em 1804, foi conquistada a independência e adotado o nome de República do Haiti.

​O monumento Negro Marrom foi criado pelo escultor haitiano Albert Mangones em 1969 em comemoração da revolta escrava e independência do país. A figura usa uma concha como trombeta para convocar os negros à luta. A perna esquerda estendida tem correntes quebradas e a mão direita segura um facão. A escultura foi colocada na avenida Champ de Mars, na capital Port-au-Prince, com o palácio presidencial ao fundo. A foto é anterior ao grande terremoto de 2010 que devastou o país e destruiu o palácio. A escultura, contudo, não foi afetada.

“Memorial Para os Escravos – Zanzibar”, Clara Sörnäs, 1998

Esta escultura mostra cinco figuras de escravos acorrentadas dentro de uma cova. São homens e mulheres, jovens e velhos, com características que mostram a variedade de origens tribais e étnicas. As suas expressões não são de tormento, nem de resignação. Eles parecem entorpecidos, desgastados e apáticos. Este memorial homenageia as vítimas de escravatura de Zanzibar e eterniza os seus destinos cruéis.

“Memorial 2007” – Les Johnson, 2007

Esta maquete de pequenas dimensões trabalhada em bronze esboça o que viria a ser o memorial proposto. Representa o posicionamento de um homem negro perante a escravatura imposta pelos europeus. É possível ver a apatia dos que foram escravizados, incluindo crianças muito pequenas, sem qualquer noção da própria realidade condenada. As algemas soltas simbolizam liberdade, independência, livre arbítrio.

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