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Textos originais "Sarau Literário"

Uma Realidade Presente

Joana Azevedo, 2021

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Para além do peso probatório, a história carrega valor pedagógico, dando-nos a possibilidade de aprender com os erros cometidos por outrem e evoluirmos, mas eis que vos pergunto o que é que aprendemos com as aulas de História?

Quando somos confrontados com a palavra “escravidão”, é inevitável associarmos a uma era, a uma raça, a um continente. No entanto, esta não define cor, género ou idade, pois é simplesmente a condição de quem não tem liberdade, de quem está sujeito à vontade de outra pessoa. Homens, mulheres e crianças são diariamente aliciados com a oportunidade de uma vida melhor, prometem-lhes segurança, comida e dinheiro, e a sua ingenuidade e desespero acabam por conduzi-los até à dor e à exaustão. Quão vazios, egoístas e ingratos podemos ser, queixando-nos do salário mínimo, da semanada não ser suficiente para as sapatilhas que acabaram de ser lançadas, quando esse pouco dinheiro seria o suficiente para alimentar uma família alvo deste horrendo ato!

Associamos a mesma palavra a correntes e cordas, quando estas não são necessárias por se tratar de escravatura, e é aí que reside a resposta à minha pergunta. Com a História, o ser humano aprendeu que não precisa de todos esses utensílios para amarrar alguém a uma máquina de costurar por mais de oito horas, para obrigar alguém a despir-se e ser reduzido a um objeto, a fabricar uma opinião universal em série. A cada dia que passa, incentivamos mais e mais a escravatura; sim, incentivamos, eu e tu, porque nos é cómodo comprar uma roupa naquela loja por ser baratíssima e a qualidade “dar para o gasto”, porque não nos importamos em comprar determinado produto que as nossas colegas comentaram ser “uma pechincha”, e nem olhamos a meios, donde veio, para onde o dinheiro vai; nós saímos a ganhar, e isso é o que importa…

   Uma vez William Wilberforce disse “podes fingir que não viste, mas nunca poderás dizer que não sabias” e é precisamente por isso que a escravatura não é um facto histórico, mas uma realidade presente.

Tudo O Que Eu Teria Vivido

Nicole Sousa, 2021

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Era eu então o seu escravo;
Fui apostado, vendido, trocado,
Lançado como um dardo
Pelos mares humilhado, escorraçado.
Eu sou chamado de fardo!
Sou acusado, decretado culpado.

Desses crimes incoerentes;
Desses crimes inexistentes;
Tantos inocentes presos a tantas correntes.
Acorrentadas por aquela agonia;
Baseadas naquela filosofia de hipocrisia,
Será que, um dia, essa injustiça se aboliria?

Por aqui tenho sido igual maltratado.
Porém, fui vendido por um preço bem mais caro;
Tento entender como funciona esse mercado…
E porque diabos é que eles não acham isso pecado
Já que eu estou sendo todos os dias crucificado!
Eu sei que não fiz nada de errado.

Vejo neles lindos dentes sorridentes
Enquanto eu mal posso vestir roupas decentes,
Nem muitos anos traria um mundo onde somos equivalentes.
Sinto falta da minha família que continua a ser o meu guia.
Cada vez menos meu me perdendo dia após dia,
Tiraram tudo de mim, a minha mente está vazia.

Isso é tudo o que eu teria vivido
Se tivesse chegado a Baía.
Eu não vou ser seu escravo;
Prefiro ser mais um suicida

Me atirando no oceano e me afogando em seguida.

A Escravatura

Beatriz Braga, 2021

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    De certa forma, a escravatura tornou-se algo normal associado à nossa existência. Isso, por si só, não demonstra já o quão grave o problema é? Séculos de tortura física e mental, e ainda não aprendemos. E pior, é algo que todos criticamos e de que temos consciência.
    A ideia de alguma pessoa, comunidade, ou raça serem superiores a outros é ridícula por si só, correto? Todos os humanos são iguais e blá blá blá..., mas permitam-me criticar os nossos antepassados e compará-los à sociedade atual. Há séculos, nós, europeus, invadimos a liberdade dos indígenas, alegando que era com uma boa intenção. Bem, a ideia das boas intenções tem mais que se lhe diga e, desculpem-me a honestidade, delas está o Inferno cheio. 
     Os orientais chegaram mesmo a pensar que nós erámos os “ignorantes”, os “atrasados”, como nos diz a história, e, sendo assim, não será uma questão de perspetiva?
   Vamos focar-nos no início da escravatura e não de uma comunidade em específico. Quando discutimos o assunto, esquecemo-nos dos gladiadores, prisioneiros políticos, muçulmanos, as minorias e todos aqueles que sofreram deste mesmo abuso, mas saber a que grupo pertenciam estas vítimas será o mais relevante?
   No final das contas, somos todos pessoas, e o nosso valor não nos pode ser retirado, seja com violência, seja com a redução dos indivíduos a números, seja a nível intelectual...
   Ao longo de séculos, líderes falaram e acho que realmente não ouvimos, quando Bukwoski disse: “a escravatura nunca foi abolida, foi apenas alargada para incluir todas as cores”; quando Martin Luther King discursou; quando Ghandi defendeu a liberdade, e muitos outros manifestaram a sua opinião, um marco foi realizado, mas o problema não foi erradicado.
   Por isso, chegou o momento de sermos nós a educar os mais novos, para que, num dia próximo, estas atitudes sejam diminuídas e, numa “utopia”, corrigidas.

Escravo de Si Mesmo

Alícia Silva, 2021

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Debrucei-me no peito da janela:
Tudo o que eu via transformou-se numa tela -
Passa um escravo da vida
Por aquela ruela, 
Tinha o rosto cansado , esgotado…
Parecia já um réu do tribunal da vida condenado como culpado.

​

As suas vestes remetiam à época de Cristo
De tão antigas e pobres que eram!
Alguém mais pobre coitado do que ele eu teria já visto?!
De certo, o labirinto da vida e os gananciosos da mesma assim o quiseram.

​

À primeira vista, pareceu-me um escravo de uns tantos outros que por aí só mandam.
Porém, a cada passo que dava para a frente,
Parecia cada vez menos crente.

​

Foi aí que vi, além, 
Que a escravidão não é só do massacre de uma pessoa para com outro alguém. 
Ele era o seu próprio escravo.
Não havia nenhuma positiva revolução em si para que pudesse enaltecer o cravo.

​

Mas que pobre coitado!

​

Ninguém sonha ter este Fado, 
De ser culpado 
Por ser escravo embriagado
Das suas próprias decisões 
Que só o levam a desilusões. 

​

Que tamanha tristeza deve ser
Escravizar-se tanto que nem alegria tem para viver.

A Escravatura dos Media e das Redes Sociais

Rafaela Nogueira e Lara Santos, 2021

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A escravatura desde sempre existiu como forma de sujeição a alguém ou opressão dos mais fortes para com os mais fracos. 
     Nos tempos mais remotos da humanidade, os vencidos eram explorados, castigados, raptados e sujeitos a cativeiro sem direitos nem garantias. Também os mais vulneráveis, como as crianças e as mulheres, eram expostos a grandes crueldades por parte de outros seres humanos. No entanto, e apesar do termo “escravatura” remeter, automaticamente, para o uso de uma pessoa como mercadoria, hoje abordaremos uma outra vertente. Fruto das novas tecnologias, que têm vindo a evoluir, nem sempre no melhor sentido, nasceu uma nova forma de dependência, de submissão, de “escravatura” - os “media” e as redes sociais.
     Ao longo dos séculos, por todo o mundo, a escravidão foi uma prática comum de diversos povos sobre outros povos. Somente a partir do século XIX é que o comércio de seres humanos começou a ser criticado e, em muitas regiões, foi abolido maioritariamente na palavra escrita – Lei; a realidade, sarcasticamente, continuava praticamente a mesma. 
     Todos os anos, centenas de milhares de pessoas são vítimas da escravatura moderna. Homens e mulheres, rapazes e raparigas, em situação vulnerável, são vítimas de tráfico humano, servidão, trabalho forçado, trabalho infantil, casamento forçado e exploração sexual. E, apesar de esta situação ser considerada crime pela Comunidade Internacional, a existência de milhões de indivíduos ainda a trabalhar como escravos é um facto doloroso e incontestável.
Mas o que é ser escravo? Ser escravo é ser privado de liberdade; é estar submetido a outro alguém, a quem se pertence como propriedade. Desta forma, o escravo, sendo uma propriedade, pode ser vendido, emprestado, alugado, abusado e, até, morto. Tudo isto segundo as necessidades de outro ser humano, se é que se pode apelidar de ser humano aquele que coloca os seus interesses pessoais, seja a que nível for, acima da dignidade de outro dotado da mesma essência. 

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Mas será que ser escravo é ser só propriedade de alguém, ou pode ser algo mais? A verdade é que, atualmente, estamos expostos a uma nova realidade, isto é, a era das tecnologias. Com esta evolução, tanto progredimos como acabamos por regredir num aspeto tão básico e desumano da nossa sociedade. A escravidão de há uns séculos já não se apresenta da mesma forma, continuando, no entanto, presente noutras vertentes, como a escravidão “impingida pelo ser ideal”, demonstrado diariamente nas redes sociais, levando-nos a querer atingir um certo padrão que nos é imposto, e não opção, escolha individual. É a tentativa, infelizmente muitas vezes conseguida, da padronização, da exigência do parecer sobre o ser.  
   O corpo ideal surge como sinónimo de uma boa alimentação, de atividade física, como possibilidade de felicidade, autoestima, realização e reconhecimento, acabando tudo isso por ser demonstrado nas redes sociais. Mas será que não é apenas uma fachada para esconder pequenas imperfeições que nos tornam tão únicos?
  Concluindo, tanto outrora como hoje, a escravatura sempre se revelou na sociedade, legal ou ilegalmente, encoberta ou, ainda que com outros nomes, descarada. Todavia impôs-se de forma diversa, principalmente com o aparecimento e a evolução das tecnologias, como já referimos, o que faz com que acabemos por ser escravizados por um sistema com um padrão muito delineado, em que somos, por vezes, coagidos e manipulados a seguir, seja por um ser que julgamos ser superior ou pela sua influência na sociedade, acabando por se refletir na nossa vida. Acontecimentos gerados, frequentemente, pelas redes sociais como tentativas de abusos sexuais, manipulação e tráfico humano são constantes e são, portanto, sinónimo de escravatura moderna.

A Situação Em Que Estamos

Emely Souza, 2021

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Nós estamos presos. Quando digo isto, a vossa mente vai para onde?
Faz tanto tempo que não vemos as nossas famílias. Em que estão a pensar?
Estão a privar-me de tanto! Estão sempre em cima de nós para cumprirmos as regras… no confinamento? Não podemos ir para ali, temos de ficar aqui… As nossas vidas estão em perigo. O trabalho é pesado, mas eu acho que aguento. Na verdade, eu tenho de aguentar.

Durante todo este tempo, pensámos em nós, na nossa situação, no nosso sofrimento. 
Cheios do vazio. O título do sarau não foi escolhido aleatoriamente. Nós, de facto, estamos cheios do vazio, do vazio do amor, do vazio da compaixão, do vazio da humildade, do vazio da humanidade. Vazios, mas inundados, inundados pelas mágoas do passado, pelo passado contuso e o presente ressentido. Mas é normal só pensarmos nos nossos problemas, é normal este egocentrismo, afinal é a nossa natureza, certo? O que podemos fazer?
Nós reclamamos até de ter de ficar em casa, no aconchego, eles não reclamam nem de não poderem viver, quer dizer, se reclamam, eu não estou a ver. Dizemos que a nossa liberdade está a ser ameaçada, e a deles que lhes foi tirada? Onde está a igualdade de que tão orgulhosamente nos regozijamos nos livros, nos documentos a todo e a cada momento? Onde está a igualdade? E não venhamos reclamar com Deus porque isto é de nossa autoria, é nossa responsabilidade.
Eles estão presos, mas o que podemos fazer? Afinal, nós não conseguimos ver.

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